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NÓS DOIS
(Celso Adolfo)
E nós que nem sabemos quanto nos queremos
Que nem sabemos tudo que queremos
Como é difícil o desejo de amar
Você que nunca soube quanto eu quis
Que não me coube, não me viu raiz
Nascendo, crescendo nos terrenos seus
Eu na janela, olhando a lua
Perguntando à lua, onde você foi amar?
E nós que nem soubemos nos querer de vez
Estamos sós, laçados em dois nós
Um que é meu beijo e outro é o lábio seu
Não sei sair cantando sem contar você
Que eu sei cantar mas conto com você
Que eu vou seguir mas vou seguir você
Queria que assim sabendo se a gente se quer
Queria me rimar no seu colo mulher
Vencer a vida de onde ela vier
Ganhar seu chegar no chegar meu
Dar de mim o homem que é seu.
Então foi assim...
Em abril de 2006, o cantor e compositor mineiro Celso Adolfo1 fez temporada pelo Projeto Pixinguinha em algumas cidades da Amazônia, com vários artistas, entre eles, Jane Duboc e Maurício Carrilho. Duas de
suas composições mais conhecidas – Nós Dois e Coração Brasileiro – estavam
nas bocas das platéias amazônicas. “Que beleza! Fiquei pirado com aquilo tudo. Quero fazer mais Pixinguinha.”2 É o próprio Celso quem exclama, com uma emoção tão grande quanto o Rio Amazonas e tão forte quanto a correnteza do Rio Tocantins.
Coração Brasileiro foi desvendada em capítulo anterior. A vez, agora, é de Nós Dois, música que já embalou muitos romances, depois de ficar conhecida na voz de Tadeu Franco e ser cantada por milhares de ‘cantores de barzinho’ por esse país afora.
Corria fevereiro de 1982. Celso Adolfo estava na varanda de seu apartamento no Edifício Panorama, na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, com aquele horizonte e uma tarde maravilhosa na frente dele; com a Lua e Vênus sozinhos num céu azul-chumbo e sem nuvens. “Eu pensava nos atropelos do amor. Tomei uma situação real, minha, e dela eu tirei a música. Comecei com a frase ...eu na janela, olhando a lua, perguntando à lua onde você foi amar?”
Celso sentiu a fisgada da canção, pulou a janela da varanda pro quarto, pegou o violão e a canção veio vindo do meio pro fim. “Fiquei sem o começo dela por alguns minutos, mas um ré maior com sexta trouxe a canção inteira, clareando o meu estado emocional daquela hora. Do jeito que a canção saiu ficou. Uma seqüência de acordes descendentes virou introdução, esse tipo de introdução que já começa entregando tudo. Tudo ao mesmo tempo, uma tarde, a Lua e uma estrela, um sentimento, a busca e a perda, acordes e melancolia, disso me veio essa Nós Dois.”
O primeiro a ouvi-la foi o jornalista e radialista Tuti Maravilha, que colocou Celso no ar na TV Bandeirantes cantando-a logo depois. “A música estava fresquinha, mas caiu na estrada do jeito que foi feita e assim ela vai indo.”
Nós Dois foi gravada em 1984, no álbum Cativante, primeiro da carreira do cantor e compositor mineiro Tadeu Franco, com produção de Milton Nascimento, direção musical de Túlio Mourão e arranjos de Wagner Tiso. Dez anos depois, entrou no repertório do CD Brasil, Nome de Vegetal, de Celso Adolfo, um
disco indispensável em qualquer discoteca que se preze.
1 Celso Adolfo Marques 09/9/1952 São Domingos do Prata-MG.
2 Entrevista concedida ao autor, em abril 2006, por e-mail.
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